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O quarto sonho missionário de São João Bosco

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Ilustração de Severino Baraldi, de "Don Bosco ti ha sognato" (Elledici, Bolonha, 2013). Foto: ANS

No final da sua vida, Dom Bosco continuou a ter visões e sonhos relativos ao desenvolvimento da sua Obra. Assim, em 1885, as crônicas relatam o seu quarto sonho missionário, no qual vislumbrava o futuro da presença salesiana na África, na Austrália e Oceânia, e na China (MB, XVII, 643-645). Publicamos o sonho para que o possamos redescobrir juntos nesta caminhada com Dom Bosco, em vista da sua Festa e no ano do Bicentenário do ‘Sonho dos Nove Anos’.

Dom Bosco narrou e comentou este sonho aos membros do Conselho Geral na noite de 2 de julho de 1885.

“Pareceu-me – disse ele – que estava diante de uma montanha muito alta, em cujo cume estava um anjo com uma luz tão brilhante que iluminava as áreas mais remotas. Ao redor da montanha havia um vasto reino. As pessoas, desconhecidas.

O anjo segurava uma espada que erguia com a mão direita. Resplendia como uma chama brilhante. Com a esquerda, apontava para as regiões circunstantes. Disse: “Angelus Arfaxad vocat vos ad proelianda bella Domini et ad congregandos populos in horrea Domini” (O anjo Arfaxad vos chama a combater as batalhas do Senhor e a congregar os povos em Seus celeiros).

Uma multidão maravilhosa de anjos o cercou. Entre eles estava também Luís Colle, rodeado por uma multidão de jovens, aos quais ensinava a cantar louvores a Deus.

Ao redor da montanha, no sopé e em seus picos, vivia muita gente. Todos falavam entre si, mas o faziam numa língua totalmente desconhecida para mim. Eu só entendia o que o Anjo dizia. Não consigo descrever o que vi: são coisas que se podem ver, compreender, mas não explicar.

Diante daquela montanha e ao longo daquele percurso pareceu-me que fui guindado a uma altura imensa, como se fosse acima das nuvens, rodeado por um espaço incomensurável… Quem poderia expressar com palavras essa altura, essa amplidão, essa luz, essa clareza, esse espetáculo? Pode-se apreciar, mas não descrever.

Eram muitos os que me acompanhavam e me encorajavam. Também me encorajavam os salesianos a não parar pelo caminho. Entre aqueles que me puxaram calorosamente, por assim dizer, pela mão, para que eu pudesse avançar, estava o querido Luís Colle e exércitos de Anjos que ecoavam o canto daqueles jovens que o rodeavam.

Então me senti como se estivesse no meio da África, num vasto deserto. No chão estava escrito em letras grandes e transparentes: ‘Negri’. No meio estava o Anjo de Cam, que disse: “«Cessabit maledictum» e a bênção do Criador descerá sobre seus réprobos filhos, e o mel e o bálsamo curarão as picadas das serpentes; depois, as torpezas dos filhos de Cam serão encobertas”.

Por fim, pareceu-me que eu estava na Austrália. Ali também havia um anjo, mas não tinha nome. Uma multidão de crianças que vivia ali tentou vir em nossa direção, mas foi impedida pela distância e pelas águas que os separavam. No entanto, eles estenderam as mãos para Dom Bosco e para os salesianos, dizendo: “Venham nos ajudar! Por que não terminam o trabalho que seus pais começaram”?

“Muitos pararam, outros com mil esforços passaram entre animais selvagens e vieram se misturar com os salesianos, que eu não conhecia, e começaram a cantar: “Benedictus qui venit in nome Domini” (Bendito o que vem em nome do Senhor).

A certa distância, podiam-se ver agregações de inúmeras ilhas, mas eu não conseguia ver detalhes. Pareceu-me que tudo aquilo indicasse, em conjunto, que a Providência estava a oferecer uma parte do campo evangélico aos salesianos, mas num tempo distante. Seus trabalhos darão frutos porque a mão do Senhor estará constantemente com eles, se não desmerecerem seus favores.

Se eu pudesse embalsamar e preservar vivos 50 salesianos dos que hoje estão entre nós, daqui a 500 anos eles veriam os estupendos destinos que a Providência nos reserva, se formos fiéis.

Sempre seremos bem vistos, mesmo pelos maus, porque nosso campo especial é tal que atrai a simpatia de todos, bons e maus. Pode haver algumas cabeças-loucas que queiram nos destruir, mas serão projetos isolados, sem o apoio de outros. Tudo o que resta é que os salesianos não se deixem levar pelo amor ao conforto e, portanto, não se afastem do trabalho. Mantendo até mesmo as Obras existentes e não se entregando ao vício da gula, eles terão um depósito duradouro.

A Sociedade Salesiana prosperará também materialmente se tentarmos apoiar e difundir o Boletim (Salesiano) e a Obra dos Filhos de Maria Auxiliadora (Obra das vocações adultas) e estendê-lo. A sua instituição é a que nos dará irmãos capazes e resolutos na sua vocação”.

No dia 10 de agosto seguinte, Dom Bosco escreveu ao conde Fiorito Colle, de Toulon, pai do menino Luís: O nosso amigo Luís me levou em viagem pelo centro de África, “terra de Ham”, como dizia, e nas terras de Arfaxad, ou seja, na China”.

Depois do sonho, Dom Bosco encarregou o clérigo Festa de pesquisar nos dicionários bíblicos acerca do enigmático Arfaxad, mencionado no décimo capítulo do Gênesis. Acreditava-se então que a chave do mistério havia sido encontrada no primeiro volume da História da Igreja de Rohrbacher, que afirma que os chineses descendiam de Arfaxad.

Dom Bosco concentrou-se particularmente na China e disse: “Se eu tivesse 20 salesianos para enviar à China, é certo que ali receberiam uma acolhida triunfal, apesar da perseguição”.

Dom Bosco parecia pensar muitas vezes neste sonho; falava dele de bom grado; via nele uma confirmação dos seus sonhos anteriores sobre as Missões.

 Com informações: ANS