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A presença salesiana entre os indígenas Bororo de Meruri

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Nesta passagem de ano comemoramos mais uma vez a façanha dos fundadores da Missão que hoje se encontra em Meruri. Vejamos alguns aspectos dessa “loucura” evangélica:

Em 1895 os salesianos tentaram uma presença entre os Bororo de Tereza Cristina que, porém, não foi bem sucedida, pois o trabalho missionário junto a um destacamento militar de 50 soldados não combinava muito com o jeito missionário. Como fruto dessa primeira e breve experiência, o Pe. Bálzola e seus companheiros obtiveram o conhecimento da língua e cultura bororo para a nova missão. A nova expedição, destinada à região dos Tachos, saiu de Cuiabá aos 17 de dezembro de 1901. Dela tomaram parte os padres João Bálzola e José Salvetto, os salesianos coadjutores Silvio Milanese, Domingos Minguzzi e Tiago Grosso, os noviços José Sabino, Pedro e Quirino Silva, as Irmãs FMA Rosa Kiste, diretora, e Madalena Tramonti e Luiza Michetti, as jovens leigas Joana Gervásio e Maria Timóteo. Na comitiva também havia cinco empregados.

A viagem de 400 km (no dizer do Pe. Rua 500 km) no lombo de animais foi demorada e foi feita no início da estação de chuvas intensas. Tudo tinha que ser carregado pelos animais de carga. Chegaram ao destino um mês e um dia mais tarde, aos 18 de janeiro de 1902, debaixo de chuva, e com os missionários usando indumentária europeia. A 40 km de distância da colônia havia um posto telegráfico, do qual foi enviado um telegrama ao Pe. Malan. Naquele tempo, os “pacíficos” trabalhadores procuravam penetrar no território dos índios, não faltando desavenças entre eles, os garimpeiros e os bororo. Os indígenas se defendiam contra a invasão do seu território. De ambos os lados havia mortes em confrontos frequentes. Como somente era conhecido o lado dos “brancos”, também os missionários consideravam os índios ferozes, bárbaros e selvagens.

Os missionários tiveram que esperar o primeiro contato com os indígenas por meses, o qual aconteceu somente em 08 de agosto de 1902. Nesse período, os missionários e missionárias se ocuparam com muitas atividades, ao construir os ambientes da nova missão dos Tachos. O lugar foi chamado assim por causa de grandes buracos na terra de arenito provocados durante o tempo das chuvas. Enquanto trabalhavam, pairava entre eles a grande pergunta: “Como será o primeiro encontro com os bororo desta região”? Se os missionários trabalhavam e esperavam, os bororo, por sua vez, observavam os missionários às escondidas e discutiam entre si como enfrentar estes novos “intrusos” em seu território.

No dia 7 de agosto de 1902, um jovem do grupo missionário comunicou que viu dois índios a pouca distância da Missão. Depois de uma noite entre sonhos e orações, no dia seguinte Pe. Bálzola mandou arrear dois cavalos, um para ele e o outro para um companheiro, para ir ao encontros dos indígenas. Nos seus escritos Pe. Bálzola comenta: “E quando estava para partir, escuto gritar: Padre, eis os índios! Saio logo e vejo cinco bororo robustos e fortes, todos pintados, de cabelos compridos, armados de arco e flecha, que diziam: ‘Padre, bororo boa, bororo boa!’ (Padre, somos bororo bons). Àquela voz de ‘boa, bororo boa’, saída da boca do cacique Joaquim, eu corri ao encontro deles e os abracei, dando-lhes as boas-vindas, com as frases mais comuns: ‘Ikiarigodure tawogai; itaidu makaguragere tai’, – ‘Eu estava ansioso de ver vocês; eu gosto muito de vocês’. Dizendo isto, convidei-os a entrar na nossa choupana. Ofereci-lhes algum alimento, dei-lhes fumo de que tanto gostam e comecei a explicar-lhes o motivo de nossa missão. – ‘Nós viemos a este lugar’, disse-lhes, ‘com o único fim de fazer-vos o bem e de defender-vos da perseguição dos ‘barae’’. – ‘Os ‘barae’, disseram eles, são maus e nos matam’.”

Os Bororo esperavam que os missionários lhes trouxessem a paz e não foram desiludidos.
(cf. Don Michele Rua nella Storia, ISS Estudi 27 LAS, p.373 ss.)

Fonte: Pe. Georg Lachnitt/ Delegado Inspetorial para Animação Missionária