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“Educar e evangelizar hoje no habitat digital. Junto com os jovens rumo ao futuro” – Quinta Parte

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(ANS – Roma) – Prossegue a publicação da série de artigos do Conselheiro Geral para a Comunicação Social, P. Gildasio Mendes, sobre o tema “Educar e evangelizar hoje no hábitat digital. Junto com os jovens, rumo ao futuro”. Aos leitores de ANS propõe-se hoje, 30 de janeiro, a quinta contribuição: “Como educar e evangelizar, hoje, no habitat digital?”

Um dos fatores que mais causaram transformações radicais em nossa maneira de comunicar foi a era digital. Ela determinou uma verdadeira mudança de época, influindo sobre os mais variados aspectos de nossas vidas e sobre nossa maneira de viver o cotidiano, como, por exemplo: educar os jovens, trabalhar, viajar…

Precisamos estar cientes, no entanto, que o emprego da internet e das redes sociais com intuito de evangelizar é, no âmbito católico, uma tarefa muito difícil e que demanda uma visão clara e a mente aberta: evangelizar, nos dias de hoje, tornou-se um desafio. Qual seria, então, a atitude correta ou o melhor método de abordagem para tal fim?

A Igreja, por meio da sua própria história e da sua grande sabedoria, como guia e formadora das missões, é capaz de oferecer alguns exemplos e orientações mais concretas para evangelizar em qualquer lugar e em qualquer contexto.

Gostaria de usar, a título de exemplo, o texto do Bom Pastor (Jo 10), porque, a meu ver, a maneira de comunicar de Jesus traz luz e orientação para a nossa reflexão.

Em primeiro lugar, é preciso levar em conta que toda a comunicação humana demanda uma dinâmica que compreende: uma linguagem, uma atitude, alguns processos e uma relação direta com a pessoa com quem queremos iniciar o caminho de interação.

Em tal dinâmica, o conceito de “nível” representa um importante ponto de partida. O nível de comunicação indica quem é a pessoa com quem quero interagir por meio de sua cultura, sua idade, seus interesses, sua experiência ou, até mesmo, em que ponto da jornada de sua Fé ela se encontra. Comunicar com os outros a partir da compreensão do conceito de nível ajuda a não criar um tipo de comunicação passível de gerar confusão, dispersão ou, ainda, o perigo de uma superposição (transmitir a uma pessoa o que ela não quer ou não compreende).

De fato, comunicar a partir da consciência do nível desse relacionamento ajuda a compreender o nível de diálogo com uma pessoa, um grupo, uma multidão. De qualquer modo, é preciso compreender bem a dinâmica do primeiro contato: quem são essas pessoas, qual a nossa intenção, por que nos encontramos ali.

É interessante aplicar a ideia do nível de comunicação ao analisar o método empregado por Jesus que, embora em contexto e cultura completamente diferentes dos atuais, respeitou exatamente o mesmo processo. Jesus fala individualmente com as pessoas: a mulher do poço, duas pessoas, um pequeno grupo, um grupo maior, uma multidão. Cada um desses encontros requer, como se disse, uma metodologia diferente, para que os objetivos possam ser alcançados.

Aprofundemos agora um pouco mais, examinando alguns aspectos humanos de acordo com a dinâmica dos níveis.

Um dos principais elementos é a confiança. Faz parte da natureza humana iniciar um diálogo a partir do grau de confiança. “Confiar ou não confiar?”. A confiança nos leva  à abertura e ao processo de compartilhar informações verdadeiras sobre a nossa vida.

Outro aspecto importante é, por exemplo, a credibilidade no relacionamento. Quem é a pessoa, qual é a sua história, qual a sua competência, quais os seus valores, em que me pode ajudar?

Outro fator a ser levado em conta é a experiência da pessoa no que se refere à realidade das coisas, à relação que se criou, daquilo que ela quer dizer, ouvir ou compartilhar comigo. Isso tudo é real?

É evidente, portanto, que este processo de relacionamento por meio do nível não é nada simples. Não existe uma regra que afirme: é assim que se deve ou não se deve fazer. É um processo aprendido com a vida, com os erros e também por nossa forma de comunicar.

A dinâmica do nível pode ser colocada em prática por meio de nossa maneira ou meio de comunicar ou, então, pela maneira pessoal de nos colocarmos em relação com uma pessoa em um ‘chat’ da escola, na igreja ou na internet.

Voltando ao método de Jesus comunicador (O Bom Pastor, Jo 10,1-30), notamos as etapas do processo comunicativo da confiança.

14“Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem,15 assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. 16Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu as conduza também. Elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. 17Por isso é que meu Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la. 18

A afirmação que ele faz é assaz interessante: “Eu sou o bom pastor”. Ela indica quem está falando, sua identidade.

Eu conheço as minhas ovelhas”. Significa que Jesus conhece seus interlocutores.

Elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor”. O tom da voz tem um grande significado na comunicação, uma vez que a voz revela a interioridade da pessoa, seus sentimentos, os estados emocionais, seu caráter.

Por isso é que meu Pai me ama, porque eu dou a minha vida…”. Jesus faz referência ao Pai, à autoridade, àquele que é seu referente. E a expressão fortíssima que traduz a totalidade da mensagem representa a profundidade da relação e a credibilidade do comunicador: dar a vida e dialogar torna-se, por fim, cura.

É evidente que nesta passagem há um significado teológico que pode ser transferido ao nível do funcionamento da comunicação.

Qual é a estratégia de Jesus para criar confiança e credibilidade ao se comunicar com as pessoas? Na passagem do Bom Pastor encontramos alguns verbos muito significativos e que podem ser aplicados ao processo de assegurar a confiança na comunicação humana:

Jesus: “ouve”, “se aproxima”, “ouve”, “sente”, “confirma”, “ama”, “entrega”. Sua palavra, sua presença, sua pessoa e sua atitude criam um processo que garante a dinâmica humana e espiritual da comunicação.

Jesus conhece muito bem outros tipos de comunicação. No texto em questão, ele faz referência ao “comunicador” que, como “mercenário, abandona suas ovelhas”.

Neste ponto, é interessante notar como, em outras ocasiões, este processo, aplicado a diferentes pessoas ou grupos, tenha tomado direções opostas. Certamente não foi porque Jesus errou em seu método de comunicação, mas porque as pessoas eram realmente fechadas e se aproximavam de Jesus apenas por interesse ideológico (os Fariseus, por exemplo).

A experiência de vida, a nossa credibilidade, a forma como vivemos e os valores que propomos são, portanto, elementos que criam a nossa credibilidade e confiabilidade.

A comunicação através de si mesmo leva a uma dinâmica e a uma lógica: são necessárias consistência e veracidade. Essa dinâmica compõe-se de vários elementos. Por exemplo: do testemunho de quem comunica os valores perceptíveis que são transmitidos, da relação entre o que é dito e o que é vivido, da relação entre a experiência e a mensagem.

Além disso, quem se comunica e deseja gerar confiança para entrar no dinamismo da comunicação com uma pessoa, ou com um grupo, precisa expressar, seja por meio da linguagem verbal (palavras) como pela não verbal (corpo, expressão facial, voz), uma coerência entre o que é dito, o que é convicção, e o que é verdade.

Jesus, de forma muito original, comunica como Bom Pastor, e a mensagem é muito clara: “Vida Eterna”. Em nome de quem ele fala? Em nome do Pai, que concedeu a Jesus tal autoridade: “Recebi esta ordem de meu Pai”. O que dá credibilidade à mensagem de Jesus? Dar sua vida por amor. A maneira de comunicar de Jesus tem grande significado e coerência, do começo ao fim.

Na analogia da comunicação, precisamos comparar a pessoa com o comunicador, o método com o que ele quer comunicar e em nome de quem. Na metodologia da comunicação por meio da internet e das redes sociais é importante ter claro este processo, caso contrário, a comunicação se torna apenas uma transmissão de informação genérica e fragmentada, uma atitude técnica que não favorece o crescimento das pessoas podendo, gerar até mesmo desconfiança, críticas, conflitos.

Evangelizar e educar no mundo digital requer, portanto, um conhecimento claro de alguns destes processos e linhas de comunicação.

No próximo encontro, falaremos sobre o anúncio na internet e nas redes sociais. Será isso possível? De que modo?…

P. Gildásio Mendes, sdb

Conselheiro Geral para as Comunicações