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Dias de Espiritualidade da Família Salesiana aprofundam a atualidade do ‘Sonho dos Nove Anos’

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Mesa redonda nos 'Dias de Espiritualidade' aprofundaram atualidade do Sonho dos 9 anos. Foto: ANS

Na sexta-feira (19/01), os ‘Dias de Espiritualidade da Família Salesiana 2024’ (DEFS 2024) foram dedicados ao debate instigante sobre a importância do ‘Sonho dos Nove Anos’. Depois de uma visão geral oferecida pelo Reitor-Mor no primeiro dia, os quase 400 participantes presentes em Valdocco (juntamente com os 4.000 conectados on-line) ouviram depoimentos selecionados para aprender a traduzir, em fatos, o conteúdo da Estreia. Além da escuta, a experiência concreta das origens por meio de visitas, à tarde, aos lugares onde nasceu a Obra de Dom Bosco, foi parte constitutiva desse dia.

Homenagem a Dom Giuseppe Cognata e o contexto da fundação das Salesianas Oblatas

A manhã começou com a apresentação do vídeo da vida de Dom Giuseppe Cognata SDB, Fundador das Salesianas Oblatas do Sagrado Coração de Jesus (SOSC): uma justa homenagem ao primeiro aniversário do Decreto de Validade Jurídica pelo Dicastério para as Causas dos Santos, do Processo de beatificação do Bispo de Bova (11 de janeiro de 2023), mas também um exemplo de como a resposta às necessidades de uma população abandonada a si mesma, do ponto de vista espiritual, encontrou uma resposta generosa, de acordo com Dom Bosco, apoiando-se no sonho da criação, no período entre as duas guerras, de uma comunidade de religiosas dedicadas aos mais pobres na Calábria.

Reflexões sobre o ‘sonho dos nove anos’ e a experiência de Dom Bosco

O P. Tulio Lucca, da Associação de Maria Auxiliadora (ADMA), apresentou, por sua vez, os quatro integrantes da mesa-redonda: o P. Bruno Ferrero, Emilde Cuda (Argentina), o P. Rafael Bejarano (Colômbia) e Blažka Nerkac (Eslovênia). Coube a eles apresentar considerações abrangentes sobre o tema do Sonho dos Nove Anos e, em seguida, responder a uma pergunta do moderador.

A reflexão do Diretor do Boletim Salesiano da Itália, P. Ferrero, foi emocionante e envolvente. “A vocação é a coisa mais importante que existe”, disse, e a de Dom Bosco deve ser considerada no contexto em que se manifestou. “Sua família era pobre, a casa onde moravam era pouco mais do que um casebre para se abrigar à noite. Mamãe Margarida lutava contra as dificuldades financeiras e chegou a ser cobrada judicialmente por uma dívida. Mas Joãozinho recebeu um chamado que pareceu tirá-lo daquele contexto e abrir uma perspectiva completamente diferente. Não se tratava de um chamado passível de recusa”. O P. João Batista Lemoyne, primeiro biógrafo de Dom Bosco, conta que o advérbio usado para descrever o tom com que Jesus se expressou no sonho é “imperiosamente”: e o menino parte, obedecendo ao comando “segue-me” sem saber com certeza para onde ia. Com o método de Maria, ternura e mansidão, ele adentra o deserto dos jovens de seu tempo. Um deserto que hoje é feito de aridez de sentimentos.

“Vocês também estavam no sonho”

O caminho foi cansativo e, às vezes, decepcionante, mas o jovem sacerdote não desanimou: da mesma forma que, para poder pagar as despesas de seus estudos, ele pedia comida para levar à despensa do seminário, ele continuou a mendigar recursos para poder servir seus meninos. Com a mesma modalidade de estender a mão, construiu para eles o Oratório de Valdocco e a Casa de Maria Auxiliadora. Dirigindo-se aos presentes, o P. Ferrero recomendou: “Lembremo-nos de que, toda vez que entramos na Basílica de Maria Auxiliadora, entramos no sonho de Dom Bosco. Saibam que vocês também estavam no sonho. O que ele escreveu para descrevê-lo, o fez por nós”.

Desafios e perspectivas: Do sonho de Dom Bosco à atualidade

Do passado para o presente, da dimensão educativa para a dimensão social. Emilde Cuda, Professora de ciências políticas e teóloga, chefe da Pontifícia Comissão para a América Latina, insistiu na estreita relação entre o “sonho” de cada pessoa de se tornar a “imagem de Deus” e o empenho coletivo de construir a esperança. Está em andamento um vasto processo de diálogo, desejado pelo Papa, entre jovens universitários de todos os continentes, justamente para fazer emergir seus sonhos. Mas há situações – como aquela expressa por um estudante do Haiti que, em uma assembleia, repetiu “não posso sonhar” – em que falta a base da dignidade humana: “Não se pode viver sem sonhar – reiterou o professor Cuda – enquanto observamos que as tecnologias, os mundos virtuais e o consumismo propõem avançar na direção daquilo que é – como bem descreve o próprio Francisco com um paradoxo – uma comunidade individualista”.

O P. Bejarano, do Setor para a Pastoral Juvenil, fez uma reflexão sobre os aspectos de se tornar “humilde, forte e robusto”: é um verdadeiro “plano programático” para toda a FS. À luz do ensinamento do Papa Francisco, é capaz de ultrapassar o âmbito do carisma de Dom Bosco para se tornar estilo e estratégia de toda a Igreja contemporânea. Lá onde aparecem “rachaduras”, a referência ao “Joãozinho do sonho” ajuda a soldar: personalismo, genericismo, ativismo, desintegração, improvisação são fissuras no serviço aos jovens que se curam com comunidade, conversa, estudo, partilha. O desafio atual é planejar em conjunto em vez de buscar diversas respostas, para não acabar com um modelo que une de modo artificial intenções divergentes.

Testemunhos da Atuação Salesiana: Experiências Educativas e Sociais

Blažka Merkac, colaboradora das Filhas de Maria Auxiliadora para as tarefas educativas destinadas aos jovens em dificuldade, apresentou a sua experiência – exemplo de caminhada que pode muito bem ser percorrido pelos leigos envolvidos no carisma salesiano. Para ela, tudo começou num acampamento de verão inspirado na vida de Laura Vicuña: um simples convite acabou por se tornar vocação, passando pela influência de mais de um “pastor” que “me guiou, mas deixando-me livre para escolher, no final, o caminho a seguir”. Outra religiosa reconheceu nela um coração salesiano. O difícil equilíbrio entre o respeito pela pessoa e a sua necessidade de ser ajudada a se orientar na vida é a qualidade do educador, que os jovens sabem captar: “Eles apreciam a honestidade, a autenticidade, a ausência de falsidade. Eles reconhecem imediatamente quem está ‘com eles e para eles’”, enfatizou.

As Filhas de Maria Auxiliadora também estavam no foco do testemunho seguinte, apresentado em vídeo, do grupo de Ex-Alunos das FMA (EXA-FMA). “Mãos no mundo, raízes no coração”, a frase (e o gesto) que representa o espírito de Madre Mazzarello, também se perpetuou no presente. Quando o P. Filipe Rinaldi lançou a pedra fundamental dessa associação, o foco da ação foi identificado nas atividades de formação, nos cuidados com a saúde, em tudo o que hoje é considerado a implementação dos direitos humanos, seguindo o exemplo de Mamãe Margarida, que não só reconheceu, no sonho de João, a vocação, mas também o ajudou a acolhê-la.

Com informações: ANS