Missão Salesiana de Mato Grosso realiza primeiros passos da Escola de Acompanhamento
Em três dias de trabalhos, palestras e orações, salesianos e leigos aprofundaram os fundamentos e técnicas necessários para o trabalho de acompanhamento pastoral e orientação espiritual, especialmente da juventude. De acordo com o delegado inspetorial para a pastoral juvenil e vocacional da Missão Salesiana de Mato Grosso, padre Wagner Galvão, toda presença salesiana deveria ter um ‘Oratório Festivo’, porque é no clima
descontraído dos jogos e brincadeiras que se cria a familiaridade entre os jovens os salesianos, formando uma condição necessária e suficiente para os diversos tipos de acompanhamento. “Quando se tem essa proximidade, ali então o salesiano tem um campo fértil para orientar pastoralmente e espiritualmente”, afirmou.
O pátio é um dos lugares sagrados no exercício da pedagogia salesiana. Dom Bosco priorizava a presença dos educadores neste espaço para fortalecer os vínculos pessoais com os jovens. A genialidade do Pai e mestre da juventude foi recordada pelo Papa Francisco ao convidar toda a Igreja a viver a “Cultura do Encontro”. A preocupação do Santo Padre o levou a promover um Sínodo, que teve as conclusões usadas como referência de trabalho no Simpósio Vocacional, promovido pela Pastoral Juvenil da Missão
Salesiana de Mato Grosso, para tratar do acompanhamento espiritual. De acordo com Alex Sander Bachega, psicoterapeuta que foi um dos assessores do Simpósio Vocacional, o acompanhamento espiritual faz parte da história da Igreja, mas que na contemporaneidade ficou reduzido ao ambiente religioso. Por isso, o papa chamou o Sínodo, para mostrar a relevância deste tema para todos os católicos. “Os jovens têm muitas escolhas a serem feitas e por isso devem ser acompanhados nessas escolhas existenciais que vão determinar na felicidade e no sentido da vida de cada um”, destacou o psicólogo e comunicador.
No entanto, existe uma grande preocupação entre todos os especialistas em acompanhamento pastoral e orientação espiritual quanto à diferenciação das situações que tornam necessário o uso de cada um dos tipos de acompanhamento. De acordo com o presidente da Missão Salesiana de Mato
Grosso, P. Gildásio Mendes, neste momento, com todo o incentivo da Igreja, é preciso compreender melhor a psicodinâmica, o caminho para se fazer a orientação. “Uma vez compreendida essa diferença, ele (o leigo) vai atuar dentro dessas áreas e vai aprofundar para fazer isso melhor”, salientou.
A importância e relevância do acompanhamento espiritual se demonstram hoje por uma característica do mercado editorial que tem nas publicações de “autoajuda” os maiores sucessos de vendas da atualidade. “Isso revela que o ser humano tem um coração que anseia por encontrar a verdade, mas esses livros apresentam receitas prontas e o ser humano é singular e único, e só no convívio com Deus ele vai poder revelar tal qual o projeto de Deus é para ele. Por isso, receita pronta não funciona, o que funciona é um diálogo íntimo, constante no dia-a-dia com Deus”, alerta Alex Bachega.
Para o especialista em Orientação Espiritual, José Omar Rodrigues Medeiros, a pessoa que faz orientação espiritual percorre dois caminhos: o primeiro é o que leva a uma maior intimidade com Deus, e o segundo é o que leva a um autoconhecimento, pois ela começa a descobrir o sentido da própria existência diante da contemplação do infinito do Criador. “Nesse contato, o orientador vai observar como é que o Criador está provocando essa sua criatura para uma experiência de maior adesão, abertura e comunhão com Ele também”, lembra José Omar.
De acordo com os estudos existentes na área da psicologia, o sentimento religioso inerente a todo ser humano, por si só já justifica a necessidade humana da orientação espiritual em complementação ao aconselhamento pastoral e ao tratamento clínico psicológico. A irmã Míriam Angélica é Filha de Maria Auxiliadora em Lins (SP) e confirma pela experiência pastoral essa necessidade e considera que tanto leigos como religiosos devam estar
capacitados para identificar os limites de cada tipo de atuação. “…a gente mistura, né? Estou achando muito bacana poder ouvir isso tudo para a gente encontrar a fronteira de cada passo, caminhar ao lado, mas não passar por um lugar que nós não damos conta e, ao invés de ajudar, destruir a pessoa. Isso é um risco”, ponderou.
Uma das técnicas de acompanhamento espiritual mais difundidas na Igreja Católica é a elaborada por Santo Inácio de Loyola. No entanto, São João Bosco também demonstrou características muito peculiares para o estilo salesiano de se fazer acompanhamento espiritual. Esse estilo foi apresentado no simpósio pelo P. Ademir de Oliveira, diretor do ‘Curatórium’ do Pós-Noviciado no Instituto São Vicente, doutor em psicologia. “Nós estamos preparando bons cristãos e honestos cidadãos. Uma orientação espiritual salesiana vê o conjunto como um todo do jovem. A dimensão religiosa, espiritual é uma, mas a dimensão humana é muito forte, bem acentuada, porque nós criamos perspectivas na vida do jovem. Quando um jovem é muito tradicional ou ele bebe de uma fonte de espiritualidade e procura um acompanhamento salesiano, nós sempre vamos respeitar o contexto que ele se encontra, mas apontar outras possibilidades de reflexões
dentro do contexto do nosso carisma”, esclareceu. “Para nós salesianos, quando se fala em juventude, a gente tem que trabalhar o projeto de vida, porque ali ele vai ter aspectos da experiência de Deus, do chamado de Deus, os aspectos próprios antropológicos, teológicos e sociológicos para impulsionar a sua vida dentro de um contexto futuro”, complementou.
A partir do Simpósio vocacional, atendendo um apelo do Papa Francisco e também do reitor-mor dos salesianos, a Inspetoria de Mato Grosso criou instrumentos de capacitação dos leigos que atuam nas presenças salesianas para exercerem com qualidade o acompanhamento dos jovens, o que se concretiza através da escola de acompanhamento e orientação espiritual. “Nós estamos investindo muito no leigo, porque o leigo já tem uma preparação no campo da psicologia, da sociologia, é será uma preparação melhor para o leigo se tornar orientador espiritual. A Missão Salesiana está assumindo isso. Nós já temos o Curso Presencial de Salesianidade para os Leigos da Inspetoria na UCDB e vamos começar no segundo semestre esta Escola de Acompanhamento a partir da Inspetoria”, confirma o presidente da MSMT, padre Gildásio Mendes.