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O ambiente educativo

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É possível, sim, criar ambientes educativos positivos capazes de possibilitar a convivência entre jovens bem resolvidos e jovens com problemas de conduta. O jovem é missionário e educador do outro jovem.

O Sistema Preventivo não é uma criação de Dom Bosco. No entanto, ele deu-lhe tantas peculiaridades que hoje é conhecido como Sistema Preventivo de Dom Bosco. É sistema porque põe em ação uma série de fatores, de pessoas, de ideias conjugadas e entrelaçadas. Assim é que uma realidade forte do sistema educativo de Dom Bosco é o ambiente educativo. Por ambiente educativo entende-se pessoas, estruturas físicas, normas, leis, modos de fazer que incidem sobre a vida de todos os que participam da comunidade educativa.

Em 1883, Dom Bosco recebeu um pedido de um grupo de pessoas de Madrid para assumir o Reformatório Santa Rita, que estava em construção. Esta cidade também estava sofrendo com a delinquência juvenil e precisava dar uma resposta à altura a esta situação. De Barcelona chegavam notícias da presença e atuação dos salesianos junto aos jovens. Então, a Comissão resolveu contatar diretamente com Dom Bosco quer por carta quer pessoalmente quando de sua visita a Barcelona.

Nesta época, Dom Bosco precisou recusar pedidos de fundação de obras. Algumas por falta de pessoal salesiano. Outras, porque as condições não eram aceitáveis e não garantiam a subsistência dos salesianos. Outras, ainda, porque na gestão da obra não se podia pôr em prática seu sistema salesiano. Isto aconteceu com o reformatório Santa Rita de Madrid.

Durante cinco anos, de 1883 a 1888, o assunto foi tratado longamente por Dom Bosco e os salesianos. E continuou depois da morte de Dom Bosco.

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Os encaminhamentos dados foram comunicados à comissão pelo padre Miguel Rua, primeiro sucessor de Dom Bosco. Os salesianos aceitavam assumir a gestão desta obra com algumas condições. Ela não poderia chamar-se de reformatório para que os jovens que saíssem deste novo colégio, destinado à sua educação cívica e cristã, não precisassem sofrer com qualquer marca infamante. Caso se dissesse que saem de uma casa de correção, de um reformatório, seria uma mancha para toda a sua vida. Até hoje as obras de Dom Bosco são chamadas de casa. Dizia o padre Rua: “Somos do parecer que o centro se denomine casa, residência ou instituto e não reformatório ou patronato”.

O mais importante, central e fundamental, é o que se segue: “Desejamos que, ao menos por cinco anos, não seja admitido ninguém sujeito a condenação, precisamente para acostumar o público a não considerá-lo como correcional”.

Aqui estão a clareza e a lucidez educativa de Dom Bosco. Não é possível juntar no mesmo lugar centenas de jovens problemáticos, condenados pela justiça, com desvios de conduta. Isto é criar uma bomba de efeito remoto. A ideia de Dom Bosco é fulgurante. Primeiro é preciso criar o ambiente educativo. É preciso reunir jovens de famílias bem constituídas, de boa conduta, de princípios humanos e cristãos adequados. Muitos destes jovens serão encaminhados para diversas oficinas para aprender um ofício. Outros, serão destinados aos estudos acadêmicos.

Continua o padre Rua: “Após o primeiro quinquênio, esperamos poder admitir também, poucos de cada vez, os muitos que já sofreram condenação”.

Exemplos

Aqui está o genial em Dom Bosco. Esta orientação poderia servir, hoje, também às instituições que executam medidas socioeducativas em nosso país. Infelizmente as soluções são sempre paliativas, de curto prazo e com pouca eficiência e eficácia. É preciso uma visão mais de Estado, mais republicana.

A maioria absoluta dos jovens é constituída de gente que trabalha, que estuda, que tem valores, que se preocupa com o próximo, que deseja construir seu futuro através do trabalho e do estudo. Esta maioria não pode ter medo e ser acuada pela minoria que não tem esta visão e esta perspectiva por diversos motivos. Também para Dom Bosco, não são os bons que devem temer os maus, mas o contrário, isto é, os maus é que devem temer os bons. É possível, sim, criar ambientes educativos positivos capazes de possibilitar a convivência entre jovens bem resolvidos e jovens com problemas de conduta. O jovem é missionário e educador do outro jovem. Assim foi para Dom Bosco e assim pode ser ainda hoje. Há experiências muito significativas que caminham neste sentido.

Não é possível um ambiente construído e organizado em forma de prisão (reformatório) para o cumprimento de medidas socioeducativas. Os jovens não precisam de repressão, mas de educadores e educadoras com visão educativa preventiva. A convivência de jovens de todos os tipos com a participação de educadores que realmente se comprometem com sua educação é o caminho mais seguro para a execução destas medidas.

Os salesianos estão esperando até hoje resposta da comissão do Reformatório Santa Rita de Madrid. Aliás, até o nome Dom Bosco queria que mudasse. Não ficava bem uma casa para meninos ter como patrona uma santa. O nome sempre é uma marca forte que incide sobre a obra toda…