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Com a força da Esperança, o Natal em tempo de pandemia

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Saúdo-vos de todo o coração, caros amigos do Boletim Salesiano. Estamos próximos do Natal e desejo partilhar convosco o pequeno diálogo entre uma neta e sua avó; uma avó que bem conhece o coração humano depois de tanta experiência pelos caminhos da vida.

«Avó, se fosses minha Fada Madrinha, que presente me darias?», perguntou a pequena à avó.

«Se fosse tua Fada Madrinha, não te ofereceria vestidos nem carrinhos», sorriu a boa velhinha à criança.

«Oferecer-te-ia um segredo: o da arte de viver na esperança. Há uma regra de ouro: só passaremos uma vez pelo mundo. Portanto, todo o bem que podes fazer ou a gentileza que podes manifestar para com qualquer ser humano, deves fazê-lo logo. Não adiar para mais tarde, nem descurá-lo, pois não passarás no mundo duas vezes. Amar é o desafio mais ambicioso da vida inteira. O mais intenso. O mais gratificante. Enterra pouco a pouco o machado das tuas guerras interiores, de modo que o teu caminho na vida floresça de paz, porque até ao dia em que partires desta vida encontrarás sempre alguma coisa que quererias mudar.

Dança com o vento da mudança, mas tem os pés bem assentes no chão dos teus princípios, dos teus sonhos, do teu desejo de ser muito humana e muito divina ao mesmo tempo. Não desistas. Luta. Perdoa. Canta debaixo do chuveiro. Pára a contemplar as cerejeiras em flor. Recorda sempre que o teu coração é grande e elástico, capaz de conter todos aqueles que se aproximam de ti com olhos suplicantes. Sê sempre amável, porque cada pessoa que encontras está a combater uma dura batalha. Aprende a abençoar e rezar pela liberdade de ver, escutar, respirar, saber, esperar, errar.

Este o presente que te daria, minha menina, mas tens já a tua Fada Madrinha: a vida e o amor que todos os dias nela Deus te concede».

Amigos, mesmo com as lágrimas de um ano 2020 difícil, estranho, duro e doloroso para nós e sobretudo para tantas famílias e para tantas pessoas idosas, tem todo o sentido olhar com esperança para a Vida e também para a Luz que o Senhor da Vida continua a oferecer-nos.

Num ano em que aumentou a pobreza de tanta gente, mas também a generosidade de muitos, em que houve dolorosas partidas de pessoas queridas, em que nos abraçámos só com os olhos, tem sentido, como diz a avó, augurar-nos aquela vida que se constrói dia a dia, por vezes com lágrimas e cansaço, mas também com sorrisos, sonhos, esperança.

Na noite, um desconhecido

A festa do Natal chega de novo com a sua carga de luz e de esperança. Também este ano, não por certo propício às festas com o Covid que ainda não quer deixar-nos, o presépio de Belém aparece diante dos nossos olhos e da nossa memória em toda a sua carga humana. Maria e José, graças às indicações de um transeunte, cujo nome ficou desconhecido na história, encontram uma gruta adaptada a estábulo e ali passam a última noite de espera. Jesus nasce absolutamente pobre. A iconografia artística circundou de anjos e de estrelas aquele trio formado por Maria, Jesus e José. Todavia quantos medos e trepidações! Também hoje algumas foto-crónicas dos nossos dias nos mostram crianças sozinhas e abandonadas na sua inerme e inocente fragilidade. O Natal coloca diante de cada um de nós os eternos valores trazidos por este menino incarnado para uma humanidade faminta e por vezes enferma, privada de um horizonte atingível e porventura também de uma bússola de vida. Uma humanidade que na pandemia se sente mais frágil, sem força para nada, mas que precisa de esperança, uma esperança que nasce no mais fundo do nosso ser humano para ser imagem e semelhança do Deus que é Amor.

Covid obriga-nos a afrouxar relações e a fechar-nos enquanto o menino Jesus nos convida a abrir-nos até dar a nossa existência ou parte dela ao próximo. É uma luz que combina com o amor. Por isso a festa do Natal ajuda-nos a viver também a precariedade, o limite e a doença e ajuda-nos a recomeçar todas as manhãs com fé e esperança.

Na saudação natalícia que escrevi para dar as boas-festas aos amigos escolhi um texto muito belo e profundo do Papa Bento XVI na sua encíclica Spe salvi (na esperança fomos salvos, como diz S. Paulo aos Romanos e também a nós: Rom 8,24). Fala-nos precisamente da vida como um caminho e uma meta, como uma viagem no mar da história, por vezes no meio de tempestades que podem chamar-se pandemia de Covid ou outras pandemias com que diariamente vivemos e que podem fazer-nos muito mal. Uma viagem em que as verdadeiras estrelas que nos guiam são pessoas que irradiam luz e esperança, até alcançar Aquele que é a Luz por excelência, Jesus o Senhor, o Filho de Deus e de Maria, que naquela noite de Natal montou a sua tenda no meio de nós.

Esta é a saudação, estas são as belas palavras:

A vida humana é um caminho.
Rumo a qual meta? Como achamos o itinerário a seguir?
A vida é como uma viagem no mar da história,
com frequência enevoada e tempestuosa,
uma viagem na qual perscrutamos os astros
que nos indicam a rota.
As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas
que souberam viver com retidão.
Elas são luzes de esperança.
Certamente, Jesus Cristo é a luz por antonomásia,
o sol erguido sobre todas as trevas da história.
Mas, para chegar até Ele precisamos também de luzes vizinhas,
de pessoas que dão luz recebida da luz d’Ele
e oferecem, assim, orientação para a nossa travessia.
E quem mais do que Maria poderia ser para nós estrela de esperança?
Ela que, pelo seu «sim», abriu ao próprio Deus a porta do nosso mundo;
Ela que Se tornou a Arca da Aliança viva,
onde Deus Se fez carne, tornou-Se um de nós
e montou a sua tenda no meio de nós.
(Spe salvi, 49)

 

Feliz Natal, portanto, a todas as famílias, a todos vós e sobretudo a quantos se sentem sós e abandonados, mas movidos pela esperança.